segunda-feira, 15 de setembro de 2008

La Faute à Fidel

Um bom filme, uma bela companhia... Um domingo sublime!

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Ao contrário do que parece, este não é um filme sobre como é terrível ser filho de comunistas. É muito mais a história bonita e cômica sobre os passos dados por uma criança desde a repulsa à militância dos pais até sua conscientização sobre o coletivo.

Um dos grandes méritos estéticos do filme é enxergar tudo pelos olhos da criança Anna. A câmera está sempre na altura de seu olhar. As passeatas são multidões de pernas. E é a partir de uma pequena fábula ou metáfora contada por um dos ‘barbudos’, sobre a divisão de uma laranja (ou da riqueza) em partes iguais, que Anna começa a compreender todas aquelas mudanças. A cena se remete à primeira do filme, em que Anna tenta, sem sucesso, ensinar seus priminhos da alta classe a cortar uma laranja e comê-la com garfo e faca. Mas já não é a mesma laranja, ela agora é dividida.

De fato, para os filhos de pais e mães militantes pode parecer um pouco invasivo ver a casa sempre ocupada por reuniões, jornais e panfletos. Podem parecer contraditórias a educação de dentro da casa e a do colégio. E pode ser duro entender o que é o mundo capitalista aos nove anos de idade. Mas perceber as contradições do mundo tão cedo é um privilégio que se carrega para a vida, algo que o filme de Julie Gavras conclui sem palavras nas últimas duas cenas. E alguns usam este privilégio para dar continuidade às lutas que eram e são de seus pais.

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