segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Seul contre tous

Gaspar Noé – este franco-argentino é um daqueles malucos que faz valer o termo extremo da expressão cinema extremo. O mais mainstream dos seus filmes, Irreversível, ganhou fama de maldito e doentio e jogou o cineasta novamente no limbo underground. A galera do lado de cá da agradece. A saga maldita começou com o curta Carne (nunca vi, mas já ouvi comentários positivos) e se concretizou com o longa Seul Contre Tous.

O filme é cinza, escuro, claustrofóbico, angustiante, desajustado, enfim ou o espectador vê que tem gente que é pior que ele e agüenta o tranco ou entra numa depressão profunda que nem tarja preta dá jeito. A trajetória do açougueiro francês - interpretado pelo ator predileto do cineasta, Philippe Nahon - refugiado na periferia imunda de Paris é uma afronta a qualquer traço de civilidade ou bondade. O personagem é uma ode ao ódio - detesta gays, alemães, mulheres, negros, árabes... Xenofobia e preconceito, em doses nada homeopáticas, retratados por um Tim Burton quase pornográfico.

A única redenção, ou melhor, o único traço de humanidade está na pureza da filha autista. Mas Noé é tão escroto que este alívio explode em tons avermelhados no final. O final é forte; muito forte mesmo. Provoca ânsia nos organismos mais resistentes. O filme nos mostra a sordidez humana, a gratuidade do desespero e da desesperança. Angústia ilimitada do mal que nós nos causamos. A desilusão em um país rico repleto de cidadãos e estrangeiros sem identidade. Nessa odisséia cosmopolita e violenta, ninguém é poupado. Todos são culpados e a fúria se torna justificável. Desilusão a tudo, todos e em todo lugar. Assim como seu cineasta, Seul Contre Tous é grande demais para o cinemão; é leão para o seu quintal.

Ponto Alto: os textos pontuando a narrativa.

Ponto Baixo: o filme sofre do efeito Apocalypse Now – agüente até o fim e entenda a grandiosidade da obra.


segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Requiem for a dream


O segundo filme do diretor norte-americano Darren Aronofsky é uma história brutal sobre sonhos despedaçados. Os conflitos de quatros personagens se interconectam, enquanto todos caminham a largos passos em direção à desgraça: Harry Goldfarb (Jared Leto), um usuário de drogas que tem uma idéia genial para revender narcóticos e ganhar uma boa grana; Sara Goldfarb (interpretada pela genial Ellen Burstyn), mãe de Harry e que se torna dependentes de inibidores de apetite, após saber que poderia ser convocada para participar de um programa de TV e tentar emagrecer para caber no seu vestido mais querido; Marion Silver (Jennifer Connelly), namorada de Harry e também viciada; e, por fim, Tyrone C. Love (Marlon Wayans), amigo de Harry e parceiro na transação que pretendem iniciar.

Mantendo a mesma linha de "Pi", Aronofsky investe na psicodelia e numa edição frenética. O filme é repleto de belíssimas tomadas, imersas numa trama de podridão e decadência. Quanto mais lutam para concretizar seus sonhos (de Sara, ir ao programa de TV, e do trio, Harry, Tyrone e Marion, fazer uma gorda poupança), mais eles se arrastam ao fundo do poço, oprimidos pelas contingências e abusos que eles mesmos perpretam.

Apesar do ar underground , "Réquiem Para um Sonho" é um filme bastante realista e uma advertência para aqueles idealistas que crêem que tudo é possível, bastando um pouco de força de vontade. Esta fábula urbana mostra que quanto maior o vôo, maior é a queda e que são poucos os que estão preparados para agüentar quando as horas difíceis chegam. Cru, forte e real!