segunda-feira, 27 de outubro de 2008

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Azuloscurocasinegro

Ontem assisti ao cativante filme Azul Escuro Quase Preto, roteiro e direção de Daniel Sánchez Arévalo. O filme segue em torno de Jorge que, sentindo-se responsável pela problema de saúde do pai, assume o trabalho de porteiro enquanto termina sua faculdade. Jorge tem um irmão, Antônio, que está na prisão e se envolve com outra presidiária, Paula. Antônio está tentando ajudar Paula a engravidar e Jorge acaba sendo envolvido nessa relação, ao mesmo tempo que tenta resolver um relacionamento inacabado com sua vizinha, Natália. Enquanto isso, Israel, amigo de Jorge, descobre que seu pai é homossexual.

O filme, com uma narrativa lenta e gostosa, com cores bem frias e cenas sutis, segue mostrando como as personagens se mantêm presas em seus conflitos pessoais, assim como Paula que é a única a permanecer na cadeia até o final. Israel, no início, se refere a si e Jorge como dois homens presos a suas vidas, assim como seu peixe de estimação. O filme segue neste aspecto, focando em Jorge que parece de mãos atadas em todos os âmbitos de sua vida, até que resolve tomar uma atitude, mas estaria ele de fato mudando de vida

Uma coisa que achei interessante no filme é o fato dele tocar de forma delicada e sem exageros de diversos tabus da sociedade: homossexualismo, conflitos familiares, sexo, relações de classe, dentre outros, de forma muito natural. As tragédias são abordadas sem fazer um dramalhão, tornando tudo muito suave, mesmo que a vida de Jorge pareça triste, não é esse aspecto que é o foco do filme.

Vale a pena assistir. Mas, se for esperando um roteiro completamente inusitado ou surpreendente ou não gostar de filmes de narrativa lenta, esqueça. Este filme é como olhar o pôr-do-sol numa tarde qualquer sem nada especial, a não ser o gostoso dessabor que a vida pode ter.

A vida me parece às vezes tão como esse filme, um azul quase negro... Uma negritude que te envolve com sua escuridão, mas que vem disfarçada de azul e você não pode se queixar, se perguntando se é algo ruim mesmo ou se é apenas a vida...


sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Chansons d'Amour

Não é por acaso que Canções de Amor começa exatamente onde Em Paris, filme anterior de Christophe Honoré, havia se encerrado. Nos créditos finais do filme de 2006, Honoré exibia uma série de planos documentais das ruas parisienses, numa clara intenção de jogar seus personagens finalmente para as ruas da cidade, que é entendida por ele como um espaço naturalmente cinematográfico. Não que o cinema de Honoré seja naturalista (de forma alguma), nem que com este artifício ele queira dizer o mesmo que um Cláudio Assis com as imagens finais de Amarelo Manga (onde, filmados de frente, personagens “reais” das ruas de Recife se equivaleriam aos que vimos em cena). No caso de Honoré parece claro que se trata menos de uma questão de realismo ou de personagens, mas sim de relação com o espaço da cidade de Paris como musa inspiradora principal (e não por acaso o título do filme anterior era aquele). Pois, como dizíamos, Canções de Amor segue o caminho contrário: seus créditos se abrem sobre imagens documentais de Paris, e é a partir delas que descobriremos a personagem de Ludivine Sagnier num espaço parisiense por natureza – a fila para um cinema. No movimento oposto, um mesmo sentido: parte-se de Paris, para chegar ao filme que, para o cineasta, só faz sentido naquela cidade.

Mas é claro que não se trata apenas de Paris como cidade real: no cinema de Honoré estamos sempre falando de uma cidade filtrada e mais do que eternizada pelo cinema. De fato, abundam referências cinematográficas em seu trabalho, mas parece menos certo tentar enxergá-lo como um herdeiro de alguma coisa (em especial da nouvelle vague, como muitos apontam), do que simplesmente como alguém hiper-consciente da força do imaginário cinematográfico entre os franceses (e, em especial, entre os parisienses). Quando Honoré vai dialogar aqui e ali com cineastas como Jacques Demy ou François Truffaut, parece bem claro que ele não pretende emular o cinema deles como um modelo, mas simplesmente assumir que seu olhar para a Paris ficcional que deseja construir precisa, obrigatoriamente, passar por estas memórias da Paris cinematográfica que foi construída por estes e tantos outros. E, afinal, como o nome diz, Canções de Amor é um musical – e nenhum gênero cinematográfico é mais “metalinguístico” por natureza.

Só que é curioso notar como o cinema de Honoré, que trabalha sempre com um transbordamento de sentimentos, torna quase natural que este transbordamento se externe através de canções. E assim a música se espalha por espaços como uma cozinha de família, um parque quase vazio, mas principalmente, as ruas de Paris. Como as músicas aparecem sem grandes orquestrações, cantadas pelos próprios atores com naturalidade e incrível graça, o formato musical encontra uma forma deliciosamente naturalizada no seu artifício. E isso faz tanto mais sentido quanto quando sabemos que as (belas) canções são de onde nasceu o filme, já que Honoré escreveu o roteiro a partir das músicas já existentes de Alex Beaupain. Não se trata portanto do desejo de se ir construir um musical, mas de achar numa cidade em certas canções a combinação exata em formato cinematográfico (chega a ser fácil imaginar Honoré escutando as músicas de Beaupain num discman ou ipod enquanto andava por Paris, e decidir assim ir fazer um filme).

Assim como já era o caso em Em Paris, Canções de Amor é um filme que começa parecendo flertar com uma frivolidade de sentimentos e encenação, mas que logo propõe, numa virada, um enfrentamento com a morte e a perda. Há que se reconhecer o talento quase brutal de Honoré em conseguir intercalar a filmagem de situações emocionais pesadas com uma busca quase obsessiva pela felicidade, onde os personagens não param de se bater uns contra os outros das maneiras mais inesperadas, num cinema que parece nos dizer o tempo todo que não existe maneira errada de se tentar “ser feliz”. É aí, aliás, que o cinema de Honoré mais nos lembra o de Pedro Almodóvar: uma mesma generosidade de olhar, uma mesma paixão pela realidade filtrada pelo cinema, e uma mesma crença de que, na confusão que é estar vivo em meio a outros seres humanos, se relacionando com eles (e há que se notar como a família é um conceito fluido mas central para os dois cineastas), só se pode acertar errando.
Fonte: Revista Cinetica


sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Gritos e Sussurros

Parece-me que meu prazer de ouvir músicas é muito maior pela manhã. Talvez eu devesse tentar fazer mais coisas de manhã cedo... trocar uma noite sem prazeres por uma manhã com prazeres...

Só hoje me caiu a ficha... sempre tentei entender as diferenças de ânimo e empolgação entre eu e as outras pessoas considerando “empolgação” (na falta de palavra melhor – me refiro a aquilo que eu tenho em relação a certos objetivos meus) como um oposto de depressão. E provavelmente não é. A analogia mais próxima que me ocorre é a do brilho e do contraste em uma imagem. Eu teria uma das duas coisas (vamos dizer que seja o contraste) muito maior que o das outras pessoas. E teria o brilho (vejamos o brilho como sendo a ausência da depressão “normal”) num nível quase continuamente menor.
Numa sociedade em que a maioria das pessoas seria passível de ter problemas apenas no “brilho”, e tendo eu também alguns problemas ocasionais de “brilho”, o fato de eu ter o “contraste” bem acima do nível normal passaria despercebido... Porém, só isso explicaria por que, mesmo com mais baixo de brilho, minha “imagem” não fica igual à dos outros com “brilho” similar... há outra coisa, outro ajuste independente envolvido.

Ou seja, antes eu pensava que só havia uma tecla deslizante de ajuste: mais ou menos depressão. Depois vi que a “capacidade de simbolização” seria uma tecla independente. Agora haveria uma terceira tecla. Obs: ainda me faltam elementos para saber com certeza se “capacidade de simbolização” e este “contraste” são mesmo um segundo e um terceiro fatores, ou apenas um segundo fator único.

Será que minha capacidade de simbolização exacerbada não poderia ser uma coisa boa quando estou bem e uma coisa ruim quando eu já estivesse meio mal? Não poderia ela realçar a percepção da depressão?

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

A Bittersweet Life

Com um final sangrento à Scarface, Doce Tortura tem todos os ingredientes para agradar os amantes dos policiais negros e sangrentos ao estilo de Brian De Palma. Com inevitáveis comparações a Oldboy, devido à temática de vingança explorada, é no entanto, um filme diferente do de Park Chan-Wook, na medida em que transparece todos os traços característicos e de autor do cineasta Kim Jee-woon.É portanto mais um filme de vingança, só que com um estilo muito próprio e com uma realização de classe. Não sendo uma obra-prima do realizador, é certamente recomendável. Sendo o primeiro filme noir coreano, o que prova que este país está cada vez a evoluir mais e melhor tornando-se uma séria referência para o que de melhor se faz na 7ª arte.

Obrigado pela dica Cláudia! Fico feliz por saber que você acompanha este blog! Um abraço!