quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Filmes Malditos - Cinema underground para cinéfilos notívagos

Edição especial: A volta dos Mortos-vivos

Desde que saíram do folclore haitiano diretamente para as telas do cinema em 1933 no clássico filme White zombie, os zumbis não pararam mais de aterrorizar os incautos espectadores nas décadas seguintes. Tornaram-se canibais com George Romero, apareceram na forma de cavaleiros templários com Amando de Ossorio, encarnaram cadáveres pútridos com Lucio Fulci e mais recentemente viraram seres hiperativos no cinema videoclipe de Zack Snyder. Não importa o método: vodu, vírus, radiação alienígena, substancias químicas, necromancia, os zumbis sempre ressurgem em alguma produção cinematográfica, seja ela de baixo orçamento ou blockbuster, provando ser esse um dos gêneros mais instigantes do cinema de horror. E nessa atmosfera fétida que o Filmes malditos retornam depois de longos meses enterrado, trazendo consigo três obras que mostram o porquê dos monstrengos causarem tanto medo e repulsa.


Para começar a jornada Dellamorte Dellamore filme que fecha de maneira brilhante o ciclo de zumbis italianos, baseado no personagem de HQ Dylan dog, o longa de Michele Soavi entrou na lista de melhores filmes da década de 90 feita pelo cineasta Martin Scorsese, na seqüência Mangue Negro, produção nacional independente que demorou três anos para ser concluída, misturando personagens típicos brasileiros com efeitos gores brutais, o filme vem sendo elogiado em festivais pelo país a fora e pra fechar a madrugada Premutos do polêmico diretor Olaf ittenbach, sobre um anjo caído que ressurge comandando uma horda de zumbis, o longa-metragem Alemão é responsável por uma das seqüências finais mais sanguinolentas já vista no cinema.

Os Filmes Malditos consistem em projeções mensais de obras do panorama da cinematografia obscura. As sessões trazem ao público filmes com temáticas transgressoras, experimentais, ultrajantes, por vezes incompreendidas ou até proibidas. Em tempos de domínio dos chamados "blockbusters", os Filmes Malditos se configuram como um contraponto a este tipo de cinema hegemônico, trazendo aos olhos do espectador um universo subversivo, fantasioso, polêmico. Inquietantes e radicais essas produções que não se encaixam nas noções comuns do mercado, encontram espaço aqui.


Serviço:
Filmes Malditos da Meia-Noite
Local: Cine Jangada
Endereço: Rua General Sampaio, 703
Data: 29 de agosto (Sábado)
Hora: Meia Noite
Censura: 18 anos
ENTRADA:5 reais*
*para manutenção do cineclube

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Che 2ª Partie - Guerilla


Quando ouvimos falar do Che de Soderbergh, da sua passagem integral por Cannes e da sua divisão em dois filmes, julgamos que a repartição em dois filmes se deve, maioritariamente, a razões comerciais. Podia ser, até porque não se conhece o grande público, atualmente, disposto a um integral de 4 horas e meia de biopic sobre Ernesto Guevara. Mas a verdade é que O Argentino e Guerrilha são mesmo dois filmes diferentes. Funcionam melhor em separado e têm mais sentido quando vistos assim. Imaginemos que a vida de Che, enquanto revolucionário, é uma curva de Gauss. O ponto mais alto representa a conquista de Cuba – simbolicamente representada pela entrada triunfante em Havana. A curva ascendente até lá representa o caminho de construção de Che como revolucionário até conquistador – parece que estamos a falar de Diários de Che Guevara, mas não, esta parte já está filmada e chama-se Che – O Argentino. A curva descendente, e aqui descendente é mesmo a palavra chave, representa o declínio de Che e a forma como não conseguiu estender a revolução ao resto do mundo, primeiro no Congo, depois na Venezuela e, por último, na Bolívia. Esta segunda parte é Che – Guerrilha.

Esta é a história que se conhece. O que Soderberh faz é aproveitar-se da história e recriá-la de forma a mostrar o mito – não o fazia tanto em O Argentino mas aqui é mais evidente. Há diferenças estéticas entres os dois também, na forma como se constroí o tempo, na narrativa e no aproveitar de documentos históricos. O primeira parte é mais matizada enquanto Guerrilha é mais crua. O Argentino acaba conosco capazes de libertar o mundo; Guerrilha emociona-nos. Há um sabor a derrota desde o início do filme. Um ambiente de reverência em relação ao homem – no filme fala-se de Che como de um heroí – e uma mostra dos seus últimos dias, mais como mostra de si mesmo do que como explicação do que falhou. Falhou a ligação de Che com as pessoas, que nunca se souberam mobilizar com a iniciativa que era necessária – e que havia sido crucial em Sierra Maestra. Falhou o apoio partidário da oposição da Bolívia. Ou falhou, simplesmente, por uma questão de pormenores. Não é esta resposta que Soderbergh procura. Mostra mais a face de Che perante a queda – que a dado momento se torna evidente – do que os motivos da queda em si. A forma como Che, perante a possibilidade de ficar em Cuba e se tornar um governante, preferiu continuar o seu caminho como revolucionário e guerrilheiro. E como, perante o descalabro dessa guerrilha, se manteve firme até ao fim, fiel aos seus princípios até ao último momento. Esta segunda parte é o verdadeiro elogio do mito que Erneto Guevara criou. O Che – o dos bonés, o das t-shirts, o dos posters – este nunca existiu.