segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Che 2ª Partie - Guerilla


Quando ouvimos falar do Che de Soderbergh, da sua passagem integral por Cannes e da sua divisão em dois filmes, julgamos que a repartição em dois filmes se deve, maioritariamente, a razões comerciais. Podia ser, até porque não se conhece o grande público, atualmente, disposto a um integral de 4 horas e meia de biopic sobre Ernesto Guevara. Mas a verdade é que O Argentino e Guerrilha são mesmo dois filmes diferentes. Funcionam melhor em separado e têm mais sentido quando vistos assim. Imaginemos que a vida de Che, enquanto revolucionário, é uma curva de Gauss. O ponto mais alto representa a conquista de Cuba – simbolicamente representada pela entrada triunfante em Havana. A curva ascendente até lá representa o caminho de construção de Che como revolucionário até conquistador – parece que estamos a falar de Diários de Che Guevara, mas não, esta parte já está filmada e chama-se Che – O Argentino. A curva descendente, e aqui descendente é mesmo a palavra chave, representa o declínio de Che e a forma como não conseguiu estender a revolução ao resto do mundo, primeiro no Congo, depois na Venezuela e, por último, na Bolívia. Esta segunda parte é Che – Guerrilha.

Esta é a história que se conhece. O que Soderberh faz é aproveitar-se da história e recriá-la de forma a mostrar o mito – não o fazia tanto em O Argentino mas aqui é mais evidente. Há diferenças estéticas entres os dois também, na forma como se constroí o tempo, na narrativa e no aproveitar de documentos históricos. O primeira parte é mais matizada enquanto Guerrilha é mais crua. O Argentino acaba conosco capazes de libertar o mundo; Guerrilha emociona-nos. Há um sabor a derrota desde o início do filme. Um ambiente de reverência em relação ao homem – no filme fala-se de Che como de um heroí – e uma mostra dos seus últimos dias, mais como mostra de si mesmo do que como explicação do que falhou. Falhou a ligação de Che com as pessoas, que nunca se souberam mobilizar com a iniciativa que era necessária – e que havia sido crucial em Sierra Maestra. Falhou o apoio partidário da oposição da Bolívia. Ou falhou, simplesmente, por uma questão de pormenores. Não é esta resposta que Soderbergh procura. Mostra mais a face de Che perante a queda – que a dado momento se torna evidente – do que os motivos da queda em si. A forma como Che, perante a possibilidade de ficar em Cuba e se tornar um governante, preferiu continuar o seu caminho como revolucionário e guerrilheiro. E como, perante o descalabro dessa guerrilha, se manteve firme até ao fim, fiel aos seus princípios até ao último momento. Esta segunda parte é o verdadeiro elogio do mito que Erneto Guevara criou. O Che – o dos bonés, o das t-shirts, o dos posters – este nunca existiu.

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