sexta-feira, 18 de junho de 2010

“Você olha um relógio. Ele funciona, mostra as horas. Você tenta compreender como ele funciona e o desmonta. Ele não anda mais. E no entanto essa é a única maneira de compreender…”

Fuga

Vou fugir de casa, bater em retirada
Ou queima-la, ao som de Bach, metido num kimono
como fez Tarkovsky em O Sacrifício

Vou, com todos o bichos e plantas, e tudo maisperambular no abandono, abandono sem fim...
Vou andar de quatro por aí a cheirar frestas
Saltitar em pernas magrelas a favor do vento em busca

de migalhas fujonas,
mijar nos muros caiados e abanar a calda para o
primeiro que se aproximar.
E olhar de lado só porquê é assim que sei, só.

Evacuar enquanto sorrio para ti, depois de rodopiar
de colo em colo com minha grande fralda branca
Babar banguela com os olhos vidrados num patinho de
borracha
e saltar de banda, como elástico, com meu corpo de pelo raiado.

Tenho ainda o firme propósito de seguir o caminho dos
meios-fios
de São Paulo, até onde eles derem, até o fim, fim do
fim

Mas eu sei, eu sei, vou ter que voltar
Como aquele que desistiu do suicídio porquê era a
hora da janta
e então encontrou a esposa em casa, a sua espera,
com uma bela sopa de aspargos.

Depois de tudo e de todas as aventuras no caminho
sempre há esse retorno à casa, sempre
Seja qual for a forma ou a cor do percurso
No meio das linhas curvas há sempre pontinhos
e esses pontinhos são as vezes que tive que voltar
para casa. Paciência.


Bruno Mitih

Hoje masturbei-me sete vezes.

Reneguei do sexo a mulher.
Odeio pernas de luxo,
mas não sei se faça broche
... e só é homem quem quer!...
De resto, o sonho é tanto de amor
como o que digo e não sei:
que já não fodo sequer,
e até nem me masturbei!


Pedro Laranjeira.